o futuro roubado


     Uma dica de leitura é o livro "O futuro roubado", citado na postagem "Os números do terror".

"Ocorre que alguns químicos sintéticos espalhados mundialmente têm uma estrutura molecular parecida com os hormônios naturais, como o estrógeno e a testosterona. Os hormônios funcionam como mensageiros da herança genética, e os químicos interferem nesse processo, alterando o conteúdo da mensagem. Em 1996, um grupo de pesquisadores norte-americanos – Theo Colborn, Diane Dumanoski e John Peterson Myers – lançaram o livro “O Futuro Roubado”, tratando dessa temática, com um apêndice na edição brasileira de José Lutzenberger. No Brasil o livro foi lançado em 2002. Urgência 17 anos depois."

Observação: Quer mais saber mais sobre leitura? Acesse a revista Plurileituridade.


Um resumo do livro está disponível abaixo:
Fonte imagem: http://www.lpm.com.br/Imagens/futuro%20roubado.jpg  




RISCOS DOS RESÍDUOS QUÍMICOS PARA
O MEIO AMBIENTE E À SAÚDE HUMANA

RESUMO DO LIVRO “0 FUTURO ROUBADO”

Segundo Lutzenberger, quando prefaciou a edição brasileira do livro “O Futuro Roubado” (Colborn et al, 1997, p. 3 à 7), foi Rachel Carson quem pela primeira chamou a atenção para os riscos da poluição química, isso lá em 1962, na ocasião do lançamento de seu livro intitulado “Primavera Silenciosa”. Foi um marco de repercussão planetária para a conscientização ecológica e que desencadeou o movimento das entidades não governamentais nas lutas pela preservação do meio ambiente.
Em 14 capítulos da obra “O Futuro Roubado”, Colborn relata experiências e observações de diversos cientistas, inclusive seus próprios estudos sobre fatos de poluição química e suas consequências para o meio ambiente, em especial para a vida selvagem e para a saúde humana.
No primeiro capítulo, Colborn et al (1997, p. 17 à 26) relata o caso ocorrido na Costa Leste do Canadá e dos Estados Unidos, onde o canadense Charles Broley, em 1939, iniciou estudo sobre as águias americanas, mais precisamente na Flórida. Após ter acompanhado 125 ninhos, o que representava cerca de 150 filhotes por ano. Em 1947, Broley percebeu que o número de águias havia caído violentamente e acabou constatando que na época do acasalamento as mesmas tinham perdido o hábito e ficavam vadiando, sem fazer ninhos. Na continuação dos trabalhos durante o ano de 1952, ficou confirmado que 80% das águias da Flórida estavam estéreis.
No final da década de 1950, na Inglaterra, os caçadores de lontras constataram que esses animais estavam desaparecendo dos rios e riachos de toda a Europa e somente vinte anos após, nos anos 80, cientistas ingleses concluíram que a causa era poluição pelo agrotóxico organoclorado dieldrin.
Nos anos 60, as indústrias que produziam casacos de pele de visom encontravam-se em franco crescimento, passaram a enfrentar problemas. Os visons que eram alimentados à base de peixe, considerado um produto barato, começaram apresentar problemas reprodutivos de baixa fertilidade, tornando-se muito grave em 1967. Pesquisadores da Universidade Estadual de Michigam, na busca da causa, logo identificaram os poluentes contidos nos peixes dos Grandes Lagos como sendo o elo entre o problema reprodutivo dos visons. Os poluentes encontrados nos peixes foram os PCBs, uma família de agentes químicos sintéticos clorados, usados no isolamento de equipamentos elétricos, tais como os transformadores.
No ano de 1970, no Lago Ontário, o biólogo Mike Gilbertson descobre a contaminação de uma colônia de gaivotas contaminadas por dioxinas. Uma devastação, pois cerca de 80% dos filhotes morriam sem conseguir sair da casca.
Ainda segundo Colborn et al (1997, p. 17 à 26), em 1968, o pesquisador Ralph Schreiber, do Museu de História Natural de Condado de Los Angeles, na Ilha de San Nicolas, constatou ninhos com ovo maior que o normal, com suspeita de contaminação pelo agente químico DDT. O mesmo caso também foi constatado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Irvine, após trabalhos na Ilha de Santa Bárbara, onde cerca de 11% dos ninhos continham ovos com os mesmos problemas.
Na década de 80, no Lago Apokpa, na Flórida, pesquisadores constataram que os jacarés estavam apresentando problemas de reprodução, pois apenas 18% dos ovos eclodiam, sendo que o normal é 90% de eclosão. Porém, para agravar a situação, dos 18% nascidos, a maioria morria até o décimo dia de vida. O especialista Lou Guillete, da Universidade da Flórida, relata o acidente ocorrido em 1980 na Companhia Química Tower, há 400 metros do lago Apokpa, onde houve o vazamento do produto químico Difocol. Após o vazamento do Difocol, mais de 90% dos jacarés desapareceram e que dos existentes no lago, 60% tinham o pênis diminuto. Esse fato de poluição ambiental só virou notícia no ano de 1994.
Indicam também os estudo de Colborn et al (1997, p. 17 à 26), que na primavera de 1988, no Norte da Europa, na Ilha de Anholt, em Kattegat, um braço do mar entre a Suécia e a Dinamarca, aconteciam sinais de epidemia de morte de focas ontárias (Phoca vitulina). Cerca de 18.000 focas mortas, representando cerca de 40% de toda a população do Mar do Norte. Era mais um presságio de que algo estava errado e necessitava ser pesquisado.
Em julho de 1990, no Mar Mediterrâneo, 1.100 golfinhos apareceram mortos na costa leste da Espanha, perto de Valência. O fato ocorreu também na Catalunha, Maiorca e outras Ilhas Baleares, bem como na costa Francesa, da Itália e do Marrocos. O pesquisador Alex Aguilar, da Universidade de Barcelona, começou em 1987 a coletar amostras de gordura de golfinhos e descobriu que o nível de PCBs era 2 a 3 vezes, quando comparado com golfinhos saudáveis.
No ano de 1992, em Copenhague, na Dinamarca, o especialista em reprodução humana, Niels Skakkebaeck, da Universidade de Copenhague, constatou espermatozoides anormais e queda na contagem na ordem de 50%, no período de 1938 a 1990, sendo a causa relacionada a fatores ambientais.
A partir da década de 50 ocorreram diversos acidentes ambientais causados pela poluição química, porém ninguém fazia o elo com a queda do número de espermatozoides. Porém, no ano de 1987, a cientista Colborn montou o quebra cabeça.
No outono de 1987, Colborn et al (1997, p. 27 à 45)  coleciona artigos científicos levantados sobre a saúde da fauna e dos humanos na região dos Grandes Lagos. No decorrer do estudo constatou que agentes químicos causavam câncer em peixes. Andorinhas do mar estavam abandonando seus ninhos, ficando constatada a síndrome do enfraquecimento dos filhotes que perdiam peso e morriam. Gaivotas desnorteadas não formavam casais, acontecendo que duas fêmeas ocupavam o mesmo ninho. Essas observações deixavam claro que havia necessidade de fazer uma avaliação da saúde ambiental da região dos Grandes Lagos.
Em junho de 1969, um acontecimento chamou a atenção. O Rio Cuyahoga que deságua no Lago Erie, em Cliveland, nos Estados Unidos, pegou fogo e queimou a ponte. Após a limpeza do rio e o retorno dos pássaros (gaivotas e cormorão de crista dupla), Colborn duvidava que os lagos estivessem limpos. Ainda haviam relatos de visons dizimados, ovos de pássaros que não eclodiam, filhotes que nasciam com bicos cruzados, ausência de olhos e pés deformados em cormorões. John Harshbarger, especialista em câncer em animais silvestres, do Instituto Smithsonian, afirma que o aumento de câncer em peixes ocorreu após a revolução química. Ficou confirmado que causavam câncer em peixes, os hidrocarbonetos poliaromáticos ou PAHS (polyaromatic hidrocarbons), agente químico derivado do petróleo. Usualmente os cientistas preocupavam-se com os “agentes químicos cancerígenos” e com “agentes químicos tóxicos”. Seguir para além do câncer foi um passo importante para a pesquisadora Colborn.
No Lago Ontário e Michigan, os pesquisadores Michel Fry, toxicologista da vida silvestre da Universidade da Califórnia em Davis, constatou que o DDT e seus derivados, DDE e Metoxiclor, causavam a feminilização dos machos de gaivotas, as quais foram chamadas de “gaivotas gays”.
Sandra e Joseph, (citados por Colborn et al, 1997, p. 27 à 45),  psicólogos da Universidade Estadual de Wayne, em Detroit, informavam que as mães que comeram peixes dos Grandes Lagos, em duas ou três refeições, foram contaminadas e consequentemente contaminavam seus bebes, apresentando os seguintes resultados: bebes nasceram mais cedo; crianças com menor peso que o normal e crianças nascidas com cabeça menor. Na Pesquisa foram encontrados PCBs nos peixes e no cordão umbilical das crianças, os quais causaram o pior resultado das crianças em testes de avaliação de desenvolvimento neurológico, pois as crianças ficavam para trás em várias categorias, como por exemplo, memória a curto prazo, comprometendo o QI no futuro. Paralelamente os casos estudados mostravam que havia presença de agrotóxicos organoclorados como o DDT, o Dieldrin, Clordane e Lindane, assim como os contaminantes da família dos PCBs. Esses agentes químicos contaminantes, foram chamados de venenos hereditários.
Colborn descobriu uma peça central do quebra cabeças no universo de Frederick Vom Saal, um biólogo da Universidade de Missouri. Observando a pesquisa de Saal, sobre a influência dos hormônios na reprodução e desenvolvimento de camundongos, Colborn descobriu que os agentes químicos mimetizam a produção do hormônio estrogênio e acabam definindo o futuro do feto que nascerá e as possíveis consequências para a saúde e para o comportamento sexual dos indivíduos. (COLBORN et al, 1997, p. 46 à 64).
No que se refere aos hormônios, Colborn et al (1996, p. 65 à 86)  relata sobre dois episódios trágicos na história da medicina, os quais ensinam lições importantes e imediatamente relevantes na busca de uma resposta para o mistério dos venenos hereditários. Estudos em animais demonstraram repetidas vezes que os seres humanos são vulneráveis aos agentes químicos sintéticos, os quais alteram os hormônios.
Em 1930, pesquisadores da Faculdade Médica da Universidade Northwestern, alertavam que brincar com hormônios era perigoso durante a gravidez.
Em 1938, o médico britânico Edward Charles Dodds e seus colegas (citado por Colborn et al, 1997, p. 87 à 108)  descobriram o hormônio dietilbestilbestrol, chamado de DES. Passados 25 anos após a descoberta, dois escândalos médicos fizeram ruir o mito do hormônio DES. A primeira bomba foi a Talidomida em 1962, quando oito mil crianças foram vitimas em 46 países, as quais nasciam sem braços e sem pernas. Outras, nasciam com problemas de coração, com dano cerebral, surdez, cegueira, autismo e epilepsia.
Em 1938, enquanto Edward Dodds anunciava a síntese do hormônio DES, o químico Suíço Paul Muller descobria o DDT. Os defensores das duas descobertas chamavam o DES de “Droga maravilhosa” e o DDT de “Pesticida milagroso”. Como reconhecimento pelas descobertas, Edward Dodds recebeu o título de “Cavaleiro do Rei” e Paul Muller recebeu o “Premio Nobel” em 1948. Doze anos após, pesquisadores da Universidade de Syracuse, em New York, descobriram que o DDT feminilizava galos. Paralelamente, os pesquisadores Verlus Frank Lindenman e Howard Burlington, observaram que a estrutura do DDT era parecida com a estrutura do DES. (COLBORN et al, 1997, p. 87 à 108)
Em 1950, foi descoberto que o DDT pode agir como um hormônio, mimetizando o estrógeno, como o DES, mas interferem em outras partes do sistema hormonal, como o metabolismo da testosterona e da tireoide. Pesquisadores identificaram pelo menos 51 químicos sintéticos, muitos deles espalhados por todo o meio ambiente, os quais alteram o sistema endócrino de um modo ou de outro. Muitos agentes químicos alteradores hormonais pertencem à famílias químicas numerosas, como a dos PSBs, que conta com 209 compostos, ou da família das 75 dioxinas, ou dos 135 furanos, para os quais uma miríade de efeitos perturbadores foram documentados.
O toxicologista Early Gray, do Laboratório de Pesquisa sobre efeitos na Saúde, da Agência Norte-Americana de Proteção Ambiental (USA Environmental Protection Agency), no Triângulo da Pesquisa, na Carolina do Norte, relata como os agentes químicos alteram o desenvolvimento sexual. O pesquisador descreve as formas pelas quais os agentes químicos sintéticos semeiam devastação entre os hormônios e mostra as consequências disso para os fetos expostos no útero. Em um de seus estudos o pesquisador mostra o caso de um rato, onde a mãe foi exposta durante a gestação ao vinclozolin, um agente químico largamente utilizado para combater fungos em frutas. Por essa razão, em termos científicos esses animais são hermafroditas ou interssexuados, não podendo funcionar nem como machos e nem como fêmeas.
 Ainda segundo Colborn et al (1997, p. 108 à 131) Na Ilha de Kosgsoya, arquipélago Norueguês de Svalbard, foram encontradas focas com 70 ppm de PCBs e ursos com 90 ppm na sua gordura. Em 1992, de doze fêmeas pesquisadas, apenas cinco tiveram filhotes.
Na costa da Holanda, nos estuários dos rios Reno e Mosa, em 1929, os PCBs criados pela adição de átomos de cloro a uma molécula com dois anéis de benzeno ligados, conhecida como bifenilo, resultam em 209 agentes químicos, chamados bifenilos policlorados. Em 1935, a Companhia Química Swann se tornou parte da Companhia Química Monsanto. Em 1964, o pesquisador Sörem Jensen, químico nascido na Dinamarca, pela primeira vez reconheceu que os PCBs se tornaram um contaminador universal. No período de 1957 a 1971, os PCBs foram utilizados na confecção de papel sem carbono. E, em 1976, os Estados Unidos proibiram a fabricação dos PCBs, porém os PCBs, entre eles o PCB-153, já haviam chegado até os confins da terra, através de toda a cadeia alimentar.
Em 1990, Colborn  et al (1997, p. 132 à 144) descobriu que a documentação que ela havia reunida, era uma comprovação que a contaminação por poluentes químicos tinha ido além dos Grandes Lagos. A poluição química tornou-se global.
Em julho de 1976, na cidade de Seveso, na Itália, explodiu uma fábrica de produtos químicos, contaminando 3.600 Km², causando um índice de 56 mil ppm. Foram confirmados 183 casos de cloracne, causada pela Dioxina.
Em 1982 e no inicio de 1983, em Times Beach, Missouri, USA, 2.240 moradores foram evacuados pelo governo federal, devido a contaminação por dioxinas. Pesquisadores constataram problemas de anomalias no sistema imunológico e disfunção cerebral nas pessoas contaminadas.
Em 1991, a Agencia de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, decidiu reavaliar sua posição em relação às dioxinas. A reavaliação já estava em andamento, quando o estudo de Richard Peterson, em Wisconsin, foi publicado. As Dioxinas podem efeitos dramáticos em doses muito baixas, em níveis próximos àqueles rotineiramente encontrados em seres humanos. A partir dessa constatação o debate mudou, pois ao invés do potencial cancerígeno, os estudos passaram a enfocar sua toxidade para o desenvolvimento para a reprodução. Experiências do pesquisador Tom Mably confirmaram que ratos, filhos de mães que receberam dioxina, tiveram uma redução de espermatozoides de até 56%. Em baixas doses de dioxinas nas mães, a redução dos espermatozoides foi de 40% e os filhotes de ratos das mães contaminadas apresentavam propensão a exibir comportamentos sexuais feminilizados. Nesse contexto, a queda do número de espermatozoides pode ter um impacto devastador na fertilidade humana.
Após o natal de 1987, a pesquisadora Dra. Ana Soto (citada por Colborn et al, 1997, p. 145 à 165), na Faculdade de Medicina da Universidade de Tufts, em Boston, constatou devido há uma série de surpresas e descobertas acidentais, que os agentes químicos alteram hormônios. A descoberta aconteceu quando Ana Soto comprovou que células de câncer de mama se desenvolveram com a presença de estrógeno. Trabalhando em conjunto, a Dra Ana Soto e o pesquisador Sonnenschain concluíram que os tubos de ensaio de plástico produziam estrógeno.
A pesquisa realizada pelos químicos do Instituto Tecnológico de Massachusetts, concluída no final de 1989, confirmou que o elemento químico do plástico dos tubos de ensaio era o p-nonilfenol. Continuando a investigação, Soto e Sonnenschain descobriram que o p-nonilfenol pertence há uma família de elementos químicos sintéticos, conhecidos como alquilfenóis. Esses produtos químicos são utilizados em larga escala na produção dos PVCs. Os detergentes industriais, com polietoxilato-alquilfenol, são amplamente usados nos produtos de limpeza domésticos, desde a década de 1940. No final dos anos 80, vários países europeus já haviam banido o polietoxilato-alquilfenol dos produtos de limpeza domésticos. Foram constatados relatos que quatorze países da Europa concordaram, em 1992, em retirar gradualmente o produto do mercado até o ano de 2000. Testes realizados em trutas arco-íris, condicionadas em gaiolas colocadas após o tratamento de esgoto que estava sendo lançado no Rio Lea, no Norte de Londres, constatou que os machos produziram vitelogenina, indicando a produção de estrogênio.
Em 1998, uma pesquisa em 28 locais de tratamento de esgoto na Inglaterra e País de Gales constatou a presença de vitelogenina em 15 de 22 locais analisados, sendo que em um dos locais o nível de vitelogenina chegou a 100 mil vezes acima do nível normal entre os peixes.
Durante sete anos, Pierre Béland, (citado por Colborn et al, 1997, p. 166 à 191), cientista e fundador do Instituto Nacional de Ecotoxicologia St. Lawrence, já havia acumulado milhares de quilômetros, indo e vindo ao longo das duas margens do Rio São Lourenço, coletando baleias belugas mortas e levando-as à Escola de Veterinária da Universidade de Montreal.
Em maio de 1989, na Escola de Veterinária da Universidade de Montreal, Béland em companhia do Veterinário Sylvain de Guise e do Técnico Richard Plante, faziam autopsia das baleias belugas e registravam no “Livro dos Mortos de Béland”, ocasião em que foram surpreendidos quando constataram contaminação pelos agentes químicos tóxicos, DDT, PCBs e Mercúrio. Posteriormente, Béland também acompanhado pelo Veterinário Daniel Martineau, fizeram dezenas de autopsias e encontraram baleias com tumores malignos, benignos, de mama e intumescências abdominais. Uma delas tinha câncer de bexiga, como muitos dos operários da fábrica de alumínio no Rio Saguenay, um afluente do Rio São Lourenço, onde algumas das baleias passavam boa parte de seu tempo. Elas sofriam de úlceras na boca, no esôfago, no estomago e nos intestinos. A maioria apresentava gengivite e não tinham todos os dentes. Muitas apresentavam pneumonias ou infecções virais e bacterianas generalizadas. Uma grande parte das belugas também sofria de problemas endocrinológicos, inclusive aumento da glândula tireoide e presença de cistos na mesma. Mais da metade das fêmeas examinadas, apresentava sinais de infecções severas de mama, as quais podiam dificultar ou mesmo até impossibilitar a amamentação dos seus filhotes. As mães que estavam amamentando apresentavam pus misturado no leite. Algumas baleias apresentavam espinhas dorsais retorcidas ou outras desordens no seu esqueleto. Era uma ladainha digna de um Jó cetáceo.
Um relato surpreendente de Colborn et al (1997, p. 166 à 191)  foi quando os veterinários fizeram a autopsia da baleia beluga (Delphinapterus leucas), identificada como DL-26, um macho adulto, com 26 anos de idade. Ele apresentava falta de dentes, enfisema, extensas úlceras no estômago. Na cavidade abdominal encontraram dois testículos e órgãos sexuais masculinos de aparência normal, como o epidídimo e o canal deferente. Porém, tinha útero e ovários, um sistema reprodutor feminino completo, sem vagina. Essa baleia era hermafrodita. Muitas baleias encontradas e analisadas, continham mais de 500 ppm de PCBs, índice dez vezes mais do que os índices exigidos pela lei no Canadá para caracterizar lixo contaminado.
Em 1989, com a morte de uma pantera fêmea aparentemente saudável, no Parque Nacional dos Everglades, no sul da Flórida, especialistas em animais silvestres concluíram que a causa foi a contaminação pelo agente químico mercúrio e começaram a desenvolver estudos. Acabaram descobrindo que as panteras sofriam de muitos outros problemas. Entre eles, a esterilidade aparente em machos e fêmeas, um nível extraordinário de anomalias nos espermatozoides, contagem baixa de espermatozoides, evidências de comprometimento nas reações imunológicas e mau funcionamento das glândulas tireoides. De um grupo de 17 machos, 13 apresentavam criptorquídia, problema esse que teria aumentado a partir de 1975. Também foram constatados pelos pesquisadores, que havia machos feminilizados, com alto índice de estradiol.
Em 1993, as águias americanas, que faziam ninhos ao longo dos Grandes Lagos, produziram quatro filhotes deformados, sendo três com bicos entrecruzados e um com patas mal-formadas. Mas esses problemas não eram exclusividades da região dos Grandes Lagos. Em 1994, o Serviço de Peixes e da Vida Silvestre começou a estudar um grupo de deformações parecidas, encontrada entre os pássaros no estado de Oregon, no vale do Rio Rogue. Nove pássaros, inclusive gaviões do rabo vermelho, francelhos, uma águia pescadora, um melro e um tordo, foram encontrados com bicos entrecruzados, olhos ausentes ou ambos os defeitos. Especialistas em animais silvestres dizem que o bico entrecruzado é uma deformidade de desenvolvimento análoga à fenda palatina entre os mamíferos.
Nos anos 50, na Grã-Bretanha e na Europa, foi constatado o declínio das lontras devido à poluição por agentes químicos. Segundo pesquisadores da Universidade de Guelph, em Ontário, no Canadá, os peixes nos Grandes Lagos apresentavam diversos problemas na reprodução e no seu desenvolvimento, dentre os quais o salmão no Lago Erie, que apresentava as glândulas tireoides aumentadas. Outro fato relatado por pesquisadores foi que a truta de lago acabou sendo extinta no Lago Ontário.
Na Europa, no inicio dos anos 70, pesquisadores realizaram estudos sobre o declínio de populações de várias espécies de focas no Mar Báltico e de focas otárias no Wadden Zee, uma grande extensão do Mar do Norte, próxima das costas da Holanda, Alemanha e Dinamarca. A população de focas otárias da costa Holandesa caiu de cerca de 1.540 indivíduos em 1965 para 550 em 1975. O imunologista Garet Lahvis, na costa da Flórida, constatou a baixa resistência imunológica nos golfinhos.
Em dezembro de 1993, Robert Stebbins, Professor Emérito de Zoologia, especialista em anfíbios, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, constatou o desaparecimento de sapos na Costa Rica e na Austrália. Diante do fato, Stebbins conclamou seus colegas a priorizarem o possível papel dos agentes químicos que alteram hormônios, em sua busca de uma causa. (COLBORN et al, 1997, p. 166 à 191).
Em meados dos anos 80, o cientista Peterson Myers, pesquisador de pássaros costeiros, constatou migrações com indivíduos contaminados. Alguns pássaros pequenos voam tão alto quanto um avião, sendo que alguns fazem voos de até 90 horas, sem escalas, de Massachusetts, nos Estados Unidos até a América do Sul. Aproximadamente dois terços das espécies de aves da América do Norte são migratórias e, muitas das que migram longas distâncias têm sofrido redução alarmante de sua população. Estima-se que algumas espécies de aves costeiras, viajam distâncias superiores a 24.000 quilômetros em apenas um ano, dos locais de acasalamento no Ártico até as estações de inverno na região sul da América do Sul. Segundo dados do Observatório de Pássaros Manomet, em Plymouth, Massachusetts, nos Estados Unidos, a população de sanderlingos, que se desloca em direção ao sul da costa leste dos Estados Unidos no outono, sofreu uma redução de cerca de 80% em um período de 15 anos.
Segundo Rachel Carson (1962, citada por Colborn et al, 1997, p. 192 à 224), o nosso destino está ligado aos animais. O que está acontecendo com os animais na Flórida, nos rios da Inglaterra, no Báltico, no Ártico, nos Grandes Lagos ou no Lago Baikal na Sibéria, tem relevância imediata para os seres humanos. O estrógeno que circula nas tartarugas é o mesmo que corre pela corrente sanguínea dos seres humanos.
Para John Muir, filósofo e ambientalista norte-americano que viveu no início do século XX, “quando tentamos isolar qualquer coisa, descobrimos que ela está presa através de cordas invisíveis a tudo mais no universo”.
Em julho de 1991, Theo Colborn e Peterson Myers reuniram 21 dos pesquisadores chave no encontro sobre alteração endocrinológica no Centro de Conferência de Wingspread, em Racine, Wisconsin. A conclusão dos pesquisadores foi que os mimetizadores hormonais que ameaçam a sobrevivência das populações animais, também colocaram em risco o futuro da humanidade. (COLBORN et al, 1997, p. 192 à 224).
Em setembro de 1992, a revista British Medical Journal publicou o trabalho de uma Equipe Dinamarquesa chefiada pelo Dr. Niels Skakkeback, a qual desenvolveu estudos dos registros de sêmen de homens, desde 1938, constatando que o numero de espermatozoides caiu em 45%, isto é, de uma média de 113 milhões/mm em 1940 para 66 milhões em 1990.  O volume também caiu em 25%, representando um declínio efetivo dos espermatozoides de 50%. A pesquisa teve como base de dados, 61 estudos envolvendo cerca de quinze mil homens de 20 países situados na América do Norte, Europa, América do Sul, Ásia, África e Austrália.  Nos Estados Unidos 5,3 milhões de indivíduos sofrem de esterilidade. De 1973 a 1991, o câncer de próstata aumentou 126%. Em 1940, uma em vinte mulheres, tinha risco de câncer. Em 1997, uma em oito mulheres, tem câncer. (COLBORN et al, 1997, p. 225 à 237).
Muito do que se sabe sobre os efeitos causados pelos agentes químicos em seres humanos, são resultados da observação de indivíduos contaminados por acidentes que causaram impactos ao meio ambiente. Um importante estudo de longo prazo envolve os filhos de mulheres que em 1979, em Taiwan, ingeriram óleo de cozinha acidentalmente contaminado com níveis elevados de PCBs e furanos. Algumas das 128 crianças estudadas, ainda estavam no útero quando suas mães ingeriram o óleo contaminado. Outras foram concebidas e nasceram depois que o período de contaminação havia terminado, de forma que a sua exposição se deu a partir da contaminação residual no corpo de suas mães. Numa série de exames e testes realizados entre 1985 e 1992, uma equipe liderada por Yue-Liang L. Guo, do Departamento de Saúde Ambiental e Ocupacional de Taiwan, descobriu que as crianças sofriam de uma gama de problema físicos e neurológicos, os quais haviam sido previstos por estudos em animais.
À medida que algumas dessas crianças chegavam à puberdade, os pesquisadores observaram que o desenvolvimento sexual entre os meninos era anormal, evidenciando um paralelo com os efeitos mais marcantes registrados pela literatura sobre animais silvestres. Como os jacarés do lago Apopka, esses meninos tinham pênis significativamente menores, quando comparados com os meninos da mesma idade que não haviam sido contaminados.
As crianças taiwanesas também mostravam comprometimento permanente de suas habilidades motoras e mentais e problemas de comportamento, inclusive níveis de atividade acima do normal. Repetidamente, os testes com essas crianças revelaram sinais de desenvolvimento retardado. Em testes de inteligência, elas ficaram cinco pontos abaixo das crianças que não foram contaminadas. Guo e seus colaboradores acreditam que a pontuação mais baixa em testes de QI seja consequência do déficit de atenção e da incapacidade dessas crianças de pensarem com a mesma rapidez que seus pares que não sofreram contaminação química.
Seguindo os indicativos das crianças de Taiwan, foi desenvolvido em 1980, o primeiro estudo sobre consumo de peixes dos Grandes Lagos, feito por Sandra e Joseph Jacobson, da Universidade Estadual de Wayne, analisando crianças filhas de mães que comiam peixes contaminados por PCBs e outros numerosos contaminantes químicos. O estudo mostrou que os filhos das mulheres que comeram peixes e daquelas que não comeram peixe ficaram evidentes imediatamente após o nascimento. Quanto maior o consumo de peixe do Lago Michigan, menor o peso de nascimento e a circunferência da cabeça do bebê. Vários testes feitos com os bebês ao nascer e em intervalos regulares posteriores ao nascimento, também revelaram evidências de comprometimento neurológico. Das mais de trezentas (300) crianças testadas no estudo, aquelas cujas mães haviam ingerido maior quantidade de peixes mostraram sinais sutis de danos, inclusive reflexos fracos e movimentos inseguros e desequilibrados quando eram recém nascidos. (COLBORN et al, 1997, p. 192 à 224).
Em 1991, o Dr. Simon Le Vay, publicou dados na revista Science sobre suas descobertas a respeito de diferenças na estrutura do cérebro de homens homossexuais e heterossexuais. O trabalho de Le Vay sustenta a teoria de que o comportamento sexual tem base biológica e é fortemente influenciado pela exposição a hormônios durante o período em que o cérebro feto passa pela diferenciação sexual. (COLBORN et al, 1997, p. 192 à 224).
No inicio de seu trabalho de pesquisa investigativa, Colborn encontrou um estudo há muito esquecido, o qual havia sido publicado em 1950 nos Anais da Sociedade de Medicina e Biologia Experimental. Foi a primeira advertência na literatura científica de que os agentes químicos sintéticos poderiam ter o efeito inesperado de alterar hormônios. O artigo escrito por dois zoólogos da Universidade de Syracuse, Verlus Frank Lindeman e o aluno de pós-graduação Howard Burlington, descrevia como doses do agente químico DDT, impediam que galos jovens se tornassem machos adultos normais e até sugeria que o agrotóxico estava agindo como um hormônio. No estudo foram utilizados quarenta (40) galos jovens, os quais recebiam doses diárias de DDT durante um período de dois a três meses. No final da pesquisa ficou constatado que os galos estavam feminilizados e seus testículos tinham atingido apenas 18% do tamanho normal. Pela aparência os galos tinham sofrido uma castração química.
Carson (1962, citada por Colborn et al, 1997, p. 192 à 224), relata sobre falhas na reprodução de galinhas e porcos, inclusive da destruição da capacidade dos pássaros de se reproduzir.
Em 1971, dezessete (17) membros do Congresso dos Estados Unidos, pediram ao Presidente Richard Nixon que o DDT fosse banido, pois causava câncer.
Para Colborn et al (1997, p. 225 à 237), ir além do câncer era um passo muito importante. O conceito chave para considerar esse tipo de assalto tóxico é a mensagem química. Não é veneno, não é cancerígeno, mas sim, mensagem química. O processo que desenrola no útero e cria um bebe normal e saudável depende da entrega, ao feto, da mensagem hormonal certa, na hora certa. Os sistemas hormonais não se comportam de acordo com o clássico modelo de dose de reação que tem informado nosso pensamento sobre reações biológicas e alterações, conforme os princípios descritos no século XVI por Paracelso, médico suíço, por muitos chamado o pai da toxicologia. O paradigma do câncer também dificulta o reconhecimento dos efeitos da alteração endocrinológica porque relaciona ameaça com doença.
Para Colborn, os riscos dos resíduos químicos para o meio ambiente e consequentemente para a saúde humana, para aqueles que tomam conhecimento pela primeira vez, parece uma situação avassaladora. Sentimentos de medo e de desamparo, não são incomuns. O problema apresentado é, de fato, um problema assustador. Ninguém deveria subestimar sua seriedade e a magnitude que essa ameaça representa para a saúde e o bem-estar humano. O conhecimento deve ser a principal defesa pessoal.
Em muitos produtos químicos, os compostos inertes muitas vezes são os nonilfenóis e o bisfenol-A, que alteram hormônios. Nos Campos de Golf de Long Island, 52 venenos foram analisados, sendo constatado que os mesmos alteram o sistema endócrino e os hormônios. Na Flórida, na região dos Everglades foi constatada uma queda de 90% da população de pássaros aquáticos.
Visando a redução no uso de produtos químicos, o Dr. Michael Braungart, químico alemão e Dr. Willian McDonough, (citados por Colborn et al, 1996, p. 238 à 259), analisaram 7.500 agentes químicos usados para tingir ou processar tecidos. Apenas 34 produtos foram considerados seguros.
Segundo Colborn et al (1997, p. 260 à 268), desde 1963, estudantes dos Estados Unidos, apresentam uma crescente queda nos resultados dos exames de 2º grau para ingressar na universidade. Considerando uma sociedade inteira, a hipótese de que estes agentes químicos sintéticos estejam minando a inteligência de toda a população, da mesma forma como estão minando a produção de espermatozoides. Atualmente, o QI médio é de 100 pontos. Uma população de cem milhões de habitantes tem 2,3 milhões intelectualmente privilegiados, cujo QI está acima de 130. Embora não pareça muito, se o QI caísse apenas cinco pontos, para 95, as implicações seriam vertiginosas, diz Bernard Weiss, um toxicologista comportamental da Universidade de Rochester, que estudou o impacto social de perdas aparentemente pequenas. Ao invés de 2,3 milhões, apenas 990 mil pessoas teriam um QI acima de 130, de forma que a sociedade perderia mais da metade de suas mentes privilegiadas, com capacidade para se tornarem médicos, cientistas, professores universitários, inventores ou escritores. Ao mesmo tempo, essa guinada em direção ao fundo do poço, resultaria em um número de novatos limitados, com QI em torno de 70. Estes aprendizes mais lentos exigiriam educação especial, o que representa um peso financeiro. Poderiam também não ser capazes de preencherem muitas das vagas mais especializadas, em uma sociedade tecnológica.
Segundo Colborn, dominados pelo desconhecimento, temos corrido riscos enormes e, sem saber, temos brincado com a nossa própria sobrevivência. Nosso dilema é como de um avião no meio da neblina, sem mapas ou instrumentos. Estamos num voo cego. (COLBORN et al, 1997, p. 269 à 279).

OBS: Mais informações sobre poluição química
 no site http://www.nossofuturoroubado.com.br


Fonte: www.sjp.pr.gov.br/wp.../04/Resumo-do-livro-O-Futuro-Roubado.odt